Família de soldado morto em guarita pede investigação ao MP Militar

Parentes afirmam que jovem de 19 anos era humilhado e não recebia apoio psicológico

| GUSTAVO BONOTTO E BRUNA MARQUES / CAMPO GRANDE NEWS


Dhiogo Melo Rodrigues foi encontrado sem vida na segunda-feira (27). (Foto: Reprodução)

A família de Dhiogo Melo Rodrigues, que morreu aos 19 anos dentro do CMO (Comando Militar do Oeste), em Campo Grande, protocolou nesta quinta-feira (30) um pedido de investigação no MPM (Ministério Público Militar), solicitando apuração e responsabilização do comando. Segundo os parentes, Dhiogo enfrentava 'humilhações, agressões físicas e dificuldades psicológicas que não foram atendidas'.

Dhiogo havia ingressado no Exército há três meses e, desde o início, demonstrava insatisfação com o serviço. A família afirmou que ele sofria 'ofensas de caráter vexatório', era chamado de 'burro' e pressionado por superiores e colegas de pelotão. A mãe, Christiane Melo dos Santos da Silva, disse que pediu repetidas vezes que o filho fosse transferido para funções menos arriscadas, como logística ou tecnologia, e que tivesse acompanhamento psicológico, mas 'não foi atendido'.

O corpo de Dhiogo foi inicialmente removido sem perícia, segundo a família, e, só depois de insistência, foi levado ao Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) para necropsia. O Exército informou que o soldado foi encontrado ainda com vida e levado ao Hospital Militar de Área de Campo Grande, mas não resistiu. Um IPM (Inquérito Policial Militar) foi aberto para apurar as circunstâncias da morte, e a instituição afirmou que está prestando suporte psicológico e espiritual à família.

O irmão de Dhiogo, que preferiu não se identificar, disse que a família não busca vingança, mas quer 'transparência e mudanças institucionais'. Ele afirmou que o caso deve servir para evitar que outras famílias passem pelo mesmo sofrimento. 'Hoje foi o pontapé inicial pela verdade e pela justiça. Mesmo sem preparo, foi colocado armado em uma guarita, onde tudo terminou da forma mais dolorosa possível', disse.

O pedido ao MPM permitirá que a instituição requisite documentos, ouça testemunhas e acompanhe o IPM, segundo especialistas. Caso identifique negligência, o MPM poderá recomendar sanções administrativas ou apontar responsabilidade criminal.

Entenda o caso - Dhiogo havia ingressado há apenas três meses no Exército Brasileiro e, desde o início, demonstrava não querer continuar servindo. “Em sua formatura, ele já se queixava muito. Minha mãe chegou a solicitar ao comandante a sua dispensa, mas nada foi feito, nem ao menos o remanejamento para outra área', relatou o irmão.

O soldado foi encontrado morto, com um disparo de fuzil na cabeça, enquanto fazia guarda no posto do CMO, na Avenida Duque de Caxias. Segundo o irmão da vítima, o corpo foi removido sem perícia no local, o que contraria protocolos básicos de apuração.

Segundo a família, o jovem não passou por nenhum teste psicológico específico para o manuseio de armas de fogo de alto calibre. “Ele relatava que sofria muito lá: ofensas de caráter vexatório. Se reclamasse, seria ainda mais cobrado. Era chamado de burro e quem o ajudava era os próprios colegas de pelotão. Todos viam que ele não tinha condições', afirma o parente.

A mãe, Christiane, reforça as denúncias e diz ter alertado repetidas vezes o comando sobre o estado emocional do filho. “Meu filho reclamava muito. Voltou da formatura sujo, ralado e machucado. Ele vivia sempre fechado e tinha medo das consequências que poderia sofrer caso revelasse algo interno. Inúmeras vezes relatei ao comandante, ao tenente e a quem eu encontrasse nas dependências do quartel, e eles sempre debochavam! Chegavam a zombar dele, dizendo que era autista, pois afirmavam que ele não levava jeito para o operacional', contou.

Em resposta, o Exército Brasileiro informou que foi aberto um IPM (Inquérito Policial Militar) para investigar o caso e que “algumas das alegações apresentadas até o momento são contraditórias'.

De acordo com a instituição, o soldado foi encontrado ainda com vida e levado imediatamente ao Hospital Militar de Área de Campo Grande; por isso, não seria “lógico esperar a perícia se havia chance de salvamento'.

Ajuda - Na Capital, o GAV (Grupo Amor Vida) oferece apoio emocional gratuito pelo telefone 0800 750 5554. Pessoas em sofrimento psíquico também podem procurar o Núcleo de Saúde Mental e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Além disso, estão disponíveis os números 141 e 188 do CVV (Centro de Valorização da Vida), 190 da Polícia Militar e 193 do Corpo de Bombeiros, que podem ser acionados em situações de crise.

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